Quem sabe?

*Tinta em tela de Silvana Oliveira

Quem sabe?

Amanhã,

eu me desconstrua.

Pegue os pedaços rasgados e observe as margens do que deveria ter sido.

Quem sabe um dia,

o reflexo ilumine as janelas e eu possa passar por elas.

Hoje sou, depois não sei.

Banal, sim. Trivial, jamais.

O trânsito que me habita não sabe o caminho.

Triste que sou, poeta de estradas vazias…

Defino-me arte sem nunca ter sido.

E, quem quer me seja!

E, sequer eu grito?

Vagueio ou não seria,

a trajetória refletora dos avessos.

Novembro

Foi vento maresia

quente, parado,

que viu o menino de longe.

Quis tocar

Mas, vento toca?

Foi a tempo que o viu,

plantado feito árvore.

O resgatou e cortou velhos galhos.

Mas, tempo corta?

O menino soltou e correu para o vento maresia,

que já se adiantava.

As folhas já tinham caído.

Seus olhos centrados miraram a esperança,

que seguiu mais rápida que o menino…

Sem saber ele ficou parado,

cacheado, galho cortado,

de longe…

querendo tocar.

ONtem m

Há de ser…

Impreciso,

Indo, só

Indo…

Também fui o ontem

Descoberta…

Impulsiva,

tentando poesia.

Precisa…

de amigos,

de árvores,

de raízes e fontes,

de silencio.

Ontem,

Talvez ainda eu seja, naquela que se agiganta.

O que sou ou deveria ser.

Espírito buscando asa,

Casa na veia das matas.

Serei sendo.

Com imprecisão,

Tropando estrada,

Aprendendo a amar,

Abrindo gaiolas no tempo.

Estou em trânsito,

 Dentro e fora d’água.

Renascendo,

Porque nunca fui chão,

Ontem, serei

Sendo.

Nota dissonante,

Árvore que caminha.

Estrelas e vento,

Canto em Tempestade,

De espera e esperança.

Ontem

Findou

O tempo,

Que há de ser.

ONTEM

Eu vi um homem sentado no chão sujo, assento de muitos nãos.

Ele era noite toda estrelada,

chorava suas estrelas cadentes.

Ontem eu chorei

Porque não consegui recolher nenhuma estrela.

No chão, recolhido pelos pés que pisam os pisados

O homem chorou

e assentou seu fim.

L’art de ne pas mourir

Preciso de arte,

Arte pra não morrer,

arte pra não enlouquecer em mim.

 Excesso fel que não me cabe.

Sou de estrelas e preciso chão

Et j’écris parce que je manque de métaphores

Arte,

Arte pra não morrer de mim,

Aos pedaços

Declinados na areia branca.

Arte pra não morrer de avessos,

Sem ar na multidão e espada empunhada nas mãos.

Je te veux, sans avoir

 Besoin des étoiles,

Qui ont déià cesse d’exiter

Nada tenho que leves,

que subtraias em silêncio, apenas o sagrado,

Sagrado existencial

Da linha que se esvai no coração do tempo,

Onde cai a folha pálida no veio escuro do rio.

Fait attention! Regarde cet oiseau qui ne veut

Pas tomber pendant le vol

Vento, leva?

Suspende tudo,

acalma a ventania

Estou folha parada querendo ser rio

Sofrendo de arte

Desaguando em papéis,

              Souhaiter le vie…

CAMINHANTE

Imagem de Freepik Company

Assim que chegar o tempo

Eu vou dominar os ventos,

quando a brisa tocar os cabelos,

as águas cobrirem os corpos

Serei vento!

Caminhante…

No meio do rio

Abaixo do sol.

Eu vou dominar os ventos,

buscando a ti no berço das existências.

No altar das estrelas estarei,

Caminhante…

Vacilante seguirei,

Caminhante…

nas entranhas maternas da Terra

Deste mundo que eu vi.

O caminho sou eu.

O caminho é você.

O tempo

É filosofia agreste no meio dos sonhos

No seio das matas

irei encantar estrelas.

Cantando,

Seguindo…

Caminheira de versos

Em amor persistente.

O caminho sou eu.

O caminho é você.

A tempestade,

É murmura que já vai indo

Elevada de mãe,

Composta de eternidade.

Quero ver você na regeneração do meu espírito,

onde já estive e estarei.

Quero ser aquela que abriga,

decide e segue,

que comunga com as forças,

que domina os ventos

e encanta estrelas.

             Quem se importa?

O Tempo…

O tempo que passa, transpassa, não passa… E Nele fiquei, comigo e cada um em si. Pensando, amargando…

E essa pandemia temporal que caminha no Tempo, talvez no meu e quem sabe no seu? Começou no Brasil em 2018, apesar de não ser uma pessoa de datas, lembro agora, enquanto busco sentido nos espaços, sentimentos, rupturas, nos processos… Coletivos.

Os últimos três anos reviraram tudo e me fiz silencio momentâneo na tempestade. Na maioria das vezes corro dela, olho pela janela ou deixo suas águas caírem na minha cabeça com força, no meio dos raios e trovões.

O mar da vida segue intranquilo, com grandes ondas e correnteza forte.

Mergulho o mais fundo que posso…

No fundo sinto uma onda passar por mim, puxo as águas com os braços o mais forte que posso e nesse tempo que estou embaixo, no silêncio da tempestade, consigo me ver, integrar e o tempo condensa.

A ressaca das nossas individualidades revirou tudo e o monturo emergiu no coletivo.

O surto e a praga social instalaram-se em todos os setores e começamos a dizer não, não aceito mais.

#EleNão é muita coisa junta que estava misturada.

#EleNão remexeu o fundo pandêmico das mazelas humanas.

Passamos a gritar o que não queremos, o que não aceitamos.

#EleNão mostrou muito mais que dois lados que não conversam. Mostrou a pandemia desumana que não conjugamos e que não toleramos mais.

Mostrou o que somos e o que devemos ser.

Mostrou quem é poesia,

Quem é amor,

O que é força.

A vacina contra o vírus e a insensatez,

Marcou nossos olhares dos falsos sorrisos que se misturavam na multidão.

Mergulhada neste mar tempestuoso vejo muitas mãos que se reconhecem e corajosamente furam as ondas e emergem na fresta do sol que aparece entre as nuvens.

No meio da tempestade sobram os poetas, os artistas, os amores, os pés descalços e as conchas, a maresia, o vento molhado, o cheiro da terra, eu e você. Ele Não.

  No silêncio subo para não perder o fôlego.

   Preciso emergir.

Em ti o natal

O MAR

Nasci conhecendo suas mãos envelhecidas, foram as que sempre enxerguei. Mãos que transformavam tristezas em alegria. Dessa visão afetiva aprendi a admirar tudo o que havia Tempo: O conhecimento, as tradições, a história. Aprendi a amar e a buscar conhecimento sobre todas as marcas envelhecidas pelos anos.

 

Cresci ansiando por suas visitas, seus doces guardados, pelo natal, pelas rabanadas que recebia as escondidas, antes da hora da ceia, pela semana de férias que passávamos com os primos em Itaipu. Conectei-me já na infância a espiritualidade amiga pelas mesmas mãos que via saldar e ritualizar em atos sagrados a chegada do ano novo.

 

Cresci sob afagos nos meus cabelos de criança que nunca cresceu aos seus olhos. Pude enxergá-los em sua essência profunda e espiritual, nas dores transformadas em atos de amor, em natal.

 

Escutei sua história perdida e sofrida proferida por sorrisos. Escutei como um lápis sedento de palavras. Em ti o natal e sua história! (…) porque a minha avó buscando a si mesma construiu um mundo.

 

Conheci os seus medos e procurei abrandá-los cheia das certezas que não tenho. Com as mãos postas sobre seus cabelos brancos agradeci a Deus por estar ali, fortalecendo os laços que me sustentariam na sua partida.

 

Sorri com os seus sorrisos e doces. Chorei com os seus olhos de despedida e em agradecimento profundo pelos laços estendidos, sagrados e permanentes.

 

Minha avó! Hoje escrevo em sua homenagem e reforço nossos afetos contando aos seus bisnetos as mesmas histórias da sua vida e do natal que aprendi e tive o merecimento de escutar.

 

Beijo-lhe a testa e hoje as minhas palavras são suas,

 

Feliz Natal!