Novembro

Foi vento maresia

quente, parado,

que viu o menino de longe.

Quis tocar

Mas, vento toca?

Foi a tempo que o viu,

plantado feito árvore.

O resgatou e cortou velhos galhos.

Mas, tempo corta?

O menino soltou e correu para o vento maresia,

que já se adiantava.

As folhas já tinham caído.

Seus olhos centrados miraram a esperança,

que seguiu mais rápida que o menino…

Sem saber ele ficou parado,

cacheado, galho cortado,

de longe…

querendo tocar.

ONtem m

Há de ser…

Impreciso,

Indo, só

Indo…

Também fui o ontem

Descoberta…

Impulsiva,

tentando poesia.

Precisa…

de amigos,

de árvores,

de raízes e fontes,

de silencio.

Ontem,

Talvez ainda eu seja, naquela que se agiganta.

O que sou ou deveria ser.

Espírito buscando asa,

Casa na veia das matas.

Serei sendo.

Com imprecisão,

Tropando estrada,

Aprendendo a amar,

Abrindo gaiolas no tempo.

Estou em trânsito,

 Dentro e fora d’água.

Renascendo,

Porque nunca fui chão,

Ontem, serei

Sendo.

Nota dissonante,

Árvore que caminha.

Estrelas e vento,

Canto em Tempestade,

De espera e esperança.

Ontem

Findou

O tempo,

Que há de ser.

MULHERES CORALINAS

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A Cidade de Goiás não é restrita apenas a sua arquitetura secular, o seu patrimônio é material e imaterial, repleta de vida e tradições culturais e tão bem vivificadas pela escritora e mulher Cora Coralina em sua obra.

As Mulheres Coralinas é um coletivo de mulheres fortes, cuja identidade, está fortemente ligada a Cidade de Goiás e a Cora Coralina. As Coralinas vão construindo pertenças, tessituras e delicadezas sensíveis de histórias em linhas de afeto.

Seus tecidos e sabores vão delineando vidas e respostas em caminhos poéticos, por meio de voltas e voltas das linhas no algodão. Vão compondo flores, sons, cores e sentidos, materializando em cada pedacinho do que produzem, a cidade de Goiás cantada pelos versos de Cora Coralina.

Bordando palavras no tempo e doces vestidos de amor, Cora ressurge em todas as vidas, colhendo as flores nas pedras de Goiás. Os teares fiam palavras, sonhos e possibilidades. Os aromas e sabores brilham os olhos como metais de cobre, espelhando os sonhos possíveis em seres de pano.

Como não querer conhecer? Sujeitos sociais que descobriram na mulher e na obra de Cora Coralina a força de sua identidade cultural e o seu potencial transformador?

Essas mulheres da Cidade de Goiás reinventam suas histórias e transformam as suas realidades por meio da leitura e conhecimento dos textos de Cora Coralina. Seus “produtos de gastronomia e artesanias” vão revelando o modo de vida Vilaboense, dando vida a cidade, mostrando a sua força e potencial.

Conheçam a obra de Cora Coralina, a Cidade de Goiás e as Mulheres Coralinas.

As Coralinas, o meu respeito e admiração!

 

*Para conhecer mais e apoiar essa ideia, acesse:

https://www.facebook.com/pg/asmulherescoralinas/about/?ref=page_internal

 

 

Quanto custa o Brasil que não lê?

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O custo social, político, ambiental e cultural do Brasil que não lê tem sido muito caro e seus impactos, deixado sequelas gravíssimas no país. Essa foi à pauta principal dos debates que ocorreram entre os dias 09 e 11 de outubro de 2017, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-Rio no VIII ENCONTRO NACIONAL DA CÁTEDRA UNESCO DE LEITURA DA PUC-RIO / II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE LEITURA.

Diante do panorama gravíssimo de nossa realidade política que os debatedores apresentaram a literatura como um mecanismo de crítica social e transformação do país. Foram dias direcionados a construção de pontes de conhecimento e caminhos para pensar estratégias para uma nova realidade e a literatura, a ferramenta essencial.

O país caminha novamente para a construção de um projeto anti-leitura, ou seja, nega e criminaliza a diversidade, as artes e a possibilidade de acesso as suas diversas expressões. O custo desse retrocesso tem sido alto para a cidadania e a democracia. Durante os painéis foi apresentada a intenção dos setores econômicos brasileiros não permitirem políticas de leitura, relegando a educação brasileira a planos menores em detrimento dos projetos econômicos.

            De que forma a literatura e suas diversas leituras podem modificar essa realidade?

De acordo com o professor André Lazaro da UERJ, a literatura comporta uma rede de relações e a prática da leitura amplia o mundo individual e social, pois ouvir e contar histórias faz do mundo uma possibilidade de afetos. Pela palavra, leitura e ação o mundo é transformado.

Vera Aguiar (PUC-RS) afirma que a leitura não é fechada na escola, mas deve ser assumida pela sociedade como um todo. Lembrando o que o poeta mexicano Octavio Paz apresenta: a literatura como valor educativo.

A professora Helena Modzelewsky (Udelar – Uruguai) realizou uma reflexão importantíssima onde a educação literária ganha espaço de protagonismos nas redes de relações e formação sociais. Para Helena, a educação para cidadania implica emoções e afetos. Compõe as nossas perspectivas de mundo e uma identidade narrativa, ou seja, as nossas representações e valores são formados e internalizados na medida em que escutamos as vozes dos personagens e assim nos escutamos e construímos uma educação para inclusão social. Dessa forma, as narrativas literárias tornam-se possibilidades de internalização do mundo através das emoções que segundo Martha Nussbaum são passíveis de traduzir-se e as vezes não nos damos conta pela intensidade delas.

As emoções e crenças humanas são repletas de narrativas e por isso necessitárias de imaginação. As experiências emocionais são sentidas pela narração do que foi vivenciado. A professora Helena Modzelewsky afirma ainda, que as narrativas não são apenas contos, mas a única forma que os seres humanos apreendem as suas experiências e quem são.

 A transformação do Brasil que não lê, segundo Helena, seria através da educação cidadã, onde o receptor (leitor) entra em diálogo com os personagens (Narrador), o que ela chama de Narração polifônica, pois cada personagem fala com a sua própria voz a partir da interação do leitor com a narrativa.       Para escutar um personagem é importante ouvir a voz dos que dizem algo sobre ele. É preciso imagens para conhecer a si mesmo e a realidade, vislumbrando-se como um mosaico. Este seria o fundamento da literatura na vida real.

Um dos caminhos apresentado durante todo o simpósio foi avaliar possibilidades de leitura: institucional, social, cultural e política e chegar ao debate de quanto vale o Brasil que lê, através das experiências concretas da literatura como fundamento de mudança, a exemplo das Mulheres Coralinas.

Acreditar no papel d leitura é a maior forma de resistência, uma revolução silenciosa que busca efetivar-se através da educação ampliada e da participação conjunta de atores sociais nas escolas, nas famílias, redes sociais e comunitárias.

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POTI PURI

 

Poti pisa no chão,

a terra grande com as folhas soltas e o pé ligeiro.

Poti para e olha os seres bem pequenos porque é um gigante.

É Puri.

Olha para o chão e mexe:

– Tasiwa!

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Com os pequenos dedinhos ajuda Tasiwa a subir nas folhas por que é um gigante.

É Puri.

Está quente e a água do rosto pinga em Tasiwa. Poti olha para o alto:

– Koarasí!

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Por que é um gigante, corre ligeiro para dentro.

É Poti Puri.

 

*Ilustração de Denilson Baniwa

http://denilsonbaniwa.com.br

O que você precisa saber sobre questão indígena e identidade nacional

 

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Qual é a relação entre questão indígena e identidade nacional?  O que isso tem a ver com você?

Ao contrário do que possa pensar, a questão indígena é muito mais impactante na sua vida do que imagina, pois a relação estabelecida com o território que ocupas é resultado da ausência ou fragilidade das representações ancestrais em sua formação.

É emergencial a necessidade da sociedade brasileira voltar-se para si, (re)conhecer e reafirmar uma história autêntica, escrita por  indivíduos que são silenciados todos os dias e que podem fortalecer e re-significar a  identidade nacional, que revela a sua ineficiência na medida em que não é mais reconhecida e/ou defendida, revelando a fragilidade das suas bases de fundamentação, aflorando o desconcerto de uma sociedade estratificada, negada em suas raízes e construída em uma cultura mentirosa, excludente e burguesa.

Sem o reconhecimento e compreensão da verdadeira memória histórica brasileira, a sociedade perde a oportunidade de fortalecimento e de mudanças oriundas do poder inquebrantável da identidade cultural.

Hoje, dia Internacional dos Povos Indígenas, reforço a necessidade de buscar a legítima memória histórica nacional, não apenas para revisitar e recontar o papel da negação permanente que as populações indígenas vem sofrendo neste país, mas para afirmar que as suas histórias persistem, que as populações e os sujeitos indígenas coexistem a esta formação e que ela é construída cotidianamente utilizando concepções de indivíduo, comunidade e sociedade ainda pouco conhecidos no Brasil.

Qual é o grande desafio?

A construção nacional do Brasil mestiço. Aquela da mistura de raças em que dificilmente alguém se definiria a partir de uma identidade cultural, no centro dessa mistura estaria o indígena exterminado e é, justamente, essa concepção que este governo ilegítimo propõe revisitar.

Outro desafio atual que legitima o discurso instituído está justamente na desconstrução da imagem exótica e estereotipada do indígena entranhada na identidade nacional.

Possivelmente, se fossem questionadas, as pessoas diriam que nunca viram um “índio” de perto e que gostariam de vê-lo, mas com a mesma imagem dos livros e do passado, expondo uma memória social que pensa os povos indígenas como homogêneos, estereotipados, com características únicas.

A proposta do governo federal de revisitar o pesadelo da integração é tornar mais distante qualquer possibilidade de transformação social e construção crítica de uma nova memória histórica brasileira, na tentativa insignificante de transformar os indígenas em peças do passado, “integrando-os” a sociedade, destituindo-os de direitos.

Porém, o tempo já mostrou o quão é poderosa a identidade cultural. Diante das inúmeras tentativas de “integração” e extermínios dos povos indígenas o tiro saiu pela culatra, pois a inserção do indígena na sociedade o instrumentalizou de novos conhecimentos e armas de resistência.

Os indígenas passaram a ocupar todos os espaços, rurais e urbanos, utilizando novas ferramentas de resistência e disseminação de suas culturas através da arte, música, comunicação, literatura, cinema, educação, redes midiáticas e organização política.

Os indígenas estão presentes no contexto social e político brasileiro e embora não sejam mais aqueles que os colonizadores encontraram em 1500, estão aqui para ficar. Não há como negar essa realidade, é fundamental reconhecê-la e tratá-la no palco dos debates críticos e afetivos da dinâmica do cotidiano e projetos de futuro.

É preciso valorizar e conhecer as concepções de mundo e história originárias do Brasil para que a população se reconheça como sujeito histórico, fortalecendo a identificação de união diante da diversidade vivenciada. Esse caminho só será possível pelo reconhecimento e valorização dos povos indígenas e pelo respeito à diversidade cultural de outras identidades, dos homens em humanidade e do território que ocupamos temporariamente.

 

WANABÍ

 

Wanabí

Wanabí, filha deste chão, refletia luz, seja ela do sol, dos raios, da lua ou da escuridão. Cabelos longos, muitas vezes ficavam presos em qualquer coisa que encontrasse em seu caminho. Viva correndo, solta, os seus olhos pareciam diferentes a cada momento. Pequena e veloz Wanabí corria o mundo que podia alcançar.

Era noite quente, escura e sem lua, Wanabí se banhava no rio quando ouviu um chiado próximo… Olhou a sua volta, saiu da água e o chiado parou.

Decidiu caminhar mais a diante. O chiado voltou, soprou em seu ouvido e ela escutou.

Era vento falante, espírito protetor que dizia: _ corre Wanabí, corre que eles estão chegando!  Vá avisar aos seus se prepararem para a grande batalha.

Wanabí correu com os cabelos soltos prendendo nos galhos partidos, mas…

Foi inevitável!

Quando Wanabí chegou já não havia mais ninguém. Ela chorou caudalosamente e o rio encheu.

Passou muito tempo a vaga buscando sabedoria para entender tudo e perdeu-se de seu lugar.

Correu, correu o mundo que podia alcançar…

O chiado voltou e soprou em Wanabí que adormeceu o sono profundo de sua terra esperando um dia retornar para poder correr livremente e contar aos seus que o espírito havia se enganado.

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ORAÇÃO FLUTUANTE

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Segue o rio,
Segue…
Teimoso e predestinado,
em margens ansiosas.
Serena água acolhendo necessidades,
Aos pés do sagrado
Continua…
Chora…
Segue!

Atravessava o Rio Negro em minha canoa, bem atento à movimentação das águas. Sabia que estava chegando bem próximo daquela margem onde conseguiria pescar um belo Tucunaré. O sol escaldante já havia esfriado fazia tempo e não demorava muito iria anoitecer.
Joguei a isca e em pé na pequena proa observava atendo qualquer movimento. Esperei ao tempo das aves e o cantar de um Akawã me chamou atenção e me perdi na imensidão dos pensamentos que vieram…

De repente o meu olhar voltou-se para as águas, quando senti que algo estava diferente e pensei:

— Akawã veio avisar que não era hora!

A canoa sacudiu e as águas a volta dela também, o vento parou e o ar abafado calou as aves mais próximas. As águas falavam!
Decidi sentar com a linha ainda ao fundo e vi que não estava só.
Era a casa do encantado, lugar sagrado e eu tinha que esperar.

Fonte de vida
O rio é um ser encantado
Não permite, nem degenera.
Regenera.

Oração flutuante
Oferece abundante as estações do conhecimento.
E eu ali, só, diante da imensidão da vida.
Era pouco e me fazia tudo

Vacilante…
Só porque era necessário,
Remei no remanso e a canoa rodava e balançava…
O rio desconfiado ficou banzeiro e mostrou a sua vontade.
Lutei com coragem, a linha escapou das minhas mãos,
Afastei-me alguns metros e saí da margem.

Akawã foi embora e também parti sem o belo peixe…

Segue o rio!
Segue…
Dono de si,
Caminheiro universal.